segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

Os Filhos do Rock - Oito razões que me fazem gostar da série

1. É a série que mais bem sucede a "Conta-me Como Foi". Ambas revisitam a memória de um povo, sem glorificarem o passado. Se "Conta-me Como Foi" falava de um país amordaçado, "Os Filhos do Rock" vira a página e mostra a liberdade a chegar em força, o rock a sair das elites e a tornar-se num fenómeno popular e o grande motor da explosão cultural urbana dos anos 80.

2. A ficção encaixa na história real de maneira pacífica e genuína. Por um lado, as personagens ficcionadas parecem as que conhecemos da vida real: o locutor Xavier (Ivo Canelas), por exemplo, aparece como um compósito de António Sérgio e Luís Filipe Barros. Por outro, as personagens "reais" (Rui Veloso, Jorge Palma ou Xutos, até agora) dão um contexto verosímil à história.

3. De uma forma geral, o texto está bem escrito, tanto no nível macro do enredo (ainda que só vamos no 4º episódio, promete o que aí vem), como no nível micro dos diálogos, como este, que põe o diretor da rádio (Albano Jerónimo) a discutir com o locutor Xavier:
[Ouve-se Go Graal Blues Band no estúdio]
Xavier (ao microfone): "Que música maravilhosa. Estivemos a ouvir 'Stray Dog'. Isto sim, é um blues à séria. É o primeiro álbum dos Go Graal Blues Band. Eles são lisboetas, acreditem ou não, e provam que não é preciso ser preto, nem de New Orleans para ter o blues e o soul a correr nas veias!"
[Entra o "Beat on the Brat" dos Ramones e, alguns segundos depois, aparece o diretor Pedro no estúdio]
Pedro: "Tu acabaste de dizer preto?"
Xavier: "Preto? Ah... Não sei, se calhar, disse. Mas que querias tu que lhe chamasse?"
Pedro: "Não sei... Música negra!"
Xavier: "Música negra? Não. Pedro, a música não é negra, eles é que são pretos."

4. Ainda no texto, é bem interessante a opção de dividir a narrativa em "Lado A" (os eventos iniciais) e em "Lado B" (os eventos posteriores). Não é habitual vermos estas opções de risco em séries feitas por cá.

5. Há atores enormes, como o Ivo Canelas (gigantesco), a Margarida Carpinteiro (sempre, sempre, sempre, toda a vida genial), a Isabel Abreu e um incrível Cristovão Campos (quem o viu no "Conta-me Como Foi" e quem o vê agora editado: as semelhanças com o Fernando Pires, o ator do "Conta-me Como Foi", levaram-me ao engano).
(Também há quem tenha desempenhos de fugir, mas adiante.)

6. O trabalho de fotografia e cinematografia é notável (e raro no panorama nacional da ficção televisiva).

7. É giro ver o Estádio, do Bairro Alto, que foi minha segunda casa durante mais de 20 anos, a servir frequentemente de cenário às cenas sociais de músicos e profissionais do meio. Ou, a outro nível, a loja Discolecção, do Vítor.

8. O Zé Paulo (Cristovão Campos) tinha o "Cinnamon Girl" a tocar na carrinha na primeira saída com a Beatriz (Filipa Areosa). Só isto já bastava.

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